sexta-feira, agosto 31, 2007

Mais do que uma vida

É mais do que uma,

A vida que Deus nos dá para viver

Há que aproveitar as suas oportunidades,

As que Ele faz aparecer.

Os momentos bons da vida,

Somos nós que os criamos,

Deus dá alguma ajuda

Na qual todos confiamos.

Um paraíso que procuramos,

É o tempo que perdemos,

A perseguir os sonhos,

Os que todos nós queremos.

Os amigos são almas Santas,

Que nos querem ajudar,

São almas prontas a curar.

Nem os temos de procurar,

Pois connosco eles querem estar.

A família não é um pormenor,

Nós somos frutos da mãe,

Somos frutos do pai,

E da irmã mais velha também.

Um paraíso é viver

E cada um escolhe o seu caminho

Que pode ser a descoberta de um amigo.

Quando há obstáculos

Há que saltar,

E quem nos pode ensinar

É a nossa família e amigos

Que estão sempre dispostos a ajudar!

Nunca o esqueças.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Um mês no palácio



Na minha cidade natal realizavam-se muitos concursos de aventuras. Este ano, a “aventura” era ver quem se aguentava um mês inteiro a fazer o trabalho de uma princesa num palácio de verdade. A minha melhor amiga, a Joana, amiga como é, decidiu inscrever-me, e lá fui eu. Arrastaram-me até as eleições finais para ver quem tinha ganho e disseram o seguinte:
- Nervosos? Quem será a sortuda que vai conseguir um mês no palácio mais famoso do mundo? Isso é o que vamos descobrir depois de um curto intervalo de apenas dez minutos. Até já…
No palácio toda a gente se interrogava por que é que o rei aceitara tal proposta.
- Senhor, meu rei… Não acha uma palermice deixar que o povo entre no palácio? Ainda por cima por causa de um concurso rasca! – A Luísa, a empregada preferida do rei, um pouco convencida, acreditava que o povo era um pormenor que Deus tinha criado na vida para ficar bem. Para dizer a verdade acho que Luísa nem sequer acreditava em Deus.
- São crianças, aposto que quando a Luísa era criança também gostava de fazer traquinices.
Na cidade…
- E o vosso futuro pode estar neste envelope que eu tenho na mão, neste momento. E a vencedora é… é…Mariana Borges!
Curioso, não é? Neste momento senti o meu coração aos pulos e eu que nem sou muito de ter o coração aos pulos. Ouvi palmas vindas de toda a parte (admira-me não ter desmaiado), chamaram-me ao palco e lá fui eu.
- Não quer dizer nada, Mariana? – Perguntou o apresentador.
- Obrigada. Eu… Eu queria agradecer à... à…
- Respira, estás bem?
- Sim. Bom, eu queria agradecer à minha amiga Joana que me inscreveu neste concurso… E queria dizer que estou muito feliz. Nunca pensei vir a ganhar uma viagem a um palácio, é bom demais para ser real! Mas, é verdade que estou um pouco nervosa, o que acontece se aguentar um mês como princesa?
- Isso é surpresa.
- E se não conseguir? – Murmurei eu, baixinho.
- Se não conseguir não conseguiu. Não acontece nada, mas… Pense positivo; ao menos conseguiu uns minutos num palácio. Há! Há! Há!
Passadas duas semanas recebi um envelope lá em casa que dizia:

DE: Concurso princesa
PARA: Mariana de Almeida Viegas Borges – Rua da Gramática \ Viana do Castelo

Mensagem: “Cara Mariana, temos o prazer de anunciar que na próxima semana, dia 5 de Janeiro, você vai ter a honra de se apresentar como princesa no palácio do Monte de Santa Luzia. À uma da tarde (13h00), para que possa almoçar com o rei e a rainha. Mandar-lhe-emos uma limusina a sua casa, exactamente às 11h30 em ponto. Esteja pronta para sair às 11h15.

Com parabéns; João Alfredo.”

- Mãe! Pai! – Chamei eu, muito entusiasmada depois de ter lido a carta. Subi as escadas de madeira, virei na primeira e única porta à esquerda, abri a porta e exclamei: - Chegou, a carta chegou! Dia 5 de Janeiro vou para o palácio! Não é maravilhoso?!
- Já, querida? – Perguntou a minha mãe pasmada. – Não é demasiado cedo? Ainda nem temos vestido!
- Eles dão-me vestidos, lá, não é óptimo? – Eu estava bastante contente, afinal, quem é que não estaria? Um mês inteiro num palácio, sem deveres, sem obrigações, terei criados a meus pés!
- Ser princesa nem sempre é bom. Vais ter obrigações, sim. Aliás, ser princesa é bastante difícil. Tens milhões de sítios para ir, milhões de pessoas para conhecer, e tens que pôr o teu povo à frente das tuas necessidades. É muito duro. – Afirmou o meu pai, preocupado que eu me cansasse demasiado. Ou mesmo que chegasse demasiado mimada a casa, com vontade de fazer dos meus pais empregados. Mas isso jamais aconteceria! Nem pensar! Pelo menos, eu não vou fazer por isso.
Uma semana depois…
- Mariana, acorda, filha. – Disse a minha mãe a dar-me palmadinhas na testa para eu acordar. – Ou deverei dizer… princesa.
Depois de ouvir a minha mãe a dizer a palavra “princesa”, eu acordei de imediato.
- Vê as horas, são 10h45. Levanta-te! – Exclamou o meu pai com mais pressa do que eu.
Levantei-me, tomei o pequeno-almoço, lavei-me e… o pior de tudo. O que é que eu vou vestir? Perguntei-me eu a mim mesma. Deverei levar a minha roupa do dia-a-dia ou deverei arranjar-me muito bem, com maquilhagem, um vestido… Afinal de contas, chegavam aí as confusões e preocupações. Conseguem adivinhar o que eu vesti? Acho que se o rei e a rainha me querem julgar, que me julguem exactamente como sou. Quero fazer as coisas à minha maneira, já que vou ser princesa por um mês.
- A limusina chegou! Adeus mãe. Adeus pai. – Disse eu, dando um abraço a ambos.
- Tenho a certeza mais que absoluta de que vais dar uma excelente princesa, mesmo que seja apenas por um mês. – Afirmou a minha mãe sempre confiante.
- Toma. – Disse o meu pai, dando-me qualquer coisa para a mão. – É um amuleto da sorte. Sei que não vais precisar dele, mas… pelo sim pelo não. Boa sorte, querida.
- Obrigada. Agora tenho que ir. Adeus.
Que nervos que eu tinha. Ainda me lembro tim tim por tim tim as dores de barriga que tinha, eram mais nervos, mas… Tentei não ser chata e calei-me o caminho todo. Até me sentia bem no silêncio e a ouvir o cantar maravilhoso dos passarinhos que cantavam em dueto. Pensamos que as vistas lindas dos rios e dos telhados cor-de-laranja sempre em moda com o céu azul a hipnotizar são apenas para os filmes e novelas, mas a sério que isso não é verdade. Havia malmequeres a taparem a vista mas, ao mesmo tempo a darem-me uma ainda melhor. As pétalas brancas do sinal da paz e o seu pé verde, sinal de esperança. O que poderia isso significar? Tinha um sumo de laranja com uma torrada mesmo ao meu lado, banquinhos luxuosos e roupa luxuosa. Tinha um jardim de km’s. Era o paraíso. Já para não falar da piscina. Água doce, só para mim e água aquecida sem fim. O que é que eu poderia querer mais?
Ouvi tambores e trompetes a tocarem-me no ouvido. O rei e a sua esposa tinham chegado. Vi a maçaneta da porta de ouro a abrir-se e vi um senhor baixo e gordo com um bigode em forma de um M maiúsculo e uma senhora também baixa, gorda, com cabelos que pareciam palha.
- Onde está ela? – Perguntou o rei mexendo no seu bigode.
- Aqui estou, meu rei. – Afirmei eu, dando uns passos mais à frente.
- A rainha deseja dizer-lhe umas palavras… – Disse o rei, dando a palavra à rainha que andava em meu torno, claro, para me julgar.
- Obrigada, amor. Bem, Mariana, não é?
- Sim, sua Majestade.
- Muito bem. Eu queria desejar-lhe as boas vindas e avisá-la de que isto não vai ser fácil. Pelo contrário, vai ser muito, muito difícil. Vamos agora de imediato dizer-lhe as suas tarefas para hoje:
· Primeiro vamos ao castelo do rei D. Marcelo, para que ele lhe possa dar as boas-vindas.
· De seguida temos que ir à missa, mostrar o nosso interesse pelo povo e por Deus.
· Depois disso temos que ir à televisão para que todos a fiquem a conhecer melhor.
· Imediatamente depois disso temos um festim em Lisboa, é bastante longe, por isso teremos que sair mais cedo da televisão.
· Depois vamos patrocinar uma loja de roupa magnífica que o rei adora, cá em Viana do Castelo.
· De seguida vamos de carroça pela rua fora, e diremos olá ao nosso povo.
· E logo a seguir temos de ir fazer um discurso em Vila Real.
E, só depois voltaremos para o palácio, para que você possa tomar um banho de espuma e arranjar-se melhor para o jantar.
- Mas agora vamos almoçar, está bom? – Perguntou a Rainha.
- Tenho que fazer tudo isso, hoje? Sabe, é que eu acabei agora mesmo de chegar e estou muito cansada, e…
- Nada de desculpas! O rei e eu temos uma prenda para si. – Interrompeu a Rainha, para me dar um embrulho muito engraçado com coroas de várias cores. Abri-o e era uma agenda. Para dizer a verdade, estava à espera de uma coisa mais luxuosa, mas…
- É para se organizar. – Disse o rei.
- Ah… Obrigada, vossa Majestade. Foi muito simpático da vossa parte terem-se lembrado de uma prenda tão… útil… como uma… agenda. Obrigada.
- Não tem de quê. – Disse a monarca. – O banquete real está agora pronto, vamos?
- Vamos.
Já tinha feito todas aquelas tarefas cansativas, e, se querem que vos diga, nunca estive tão cansada em toda a minha vida! Doía-me o corpo todo. O que me valeu foi o banho de espuma. Mas, apesar de tudo, sentia-me morta. Já estava na hora de jantar. Tinha imensos pratos, não fiquei muito surpreendida, afinal, eu estava a viver a vida de rico. Estava bastante contente, excluindo a parte das tarefas, mas, de certeza que, como este é o meu primeiro dia como princesa, as tarefas tinham sido mais, só podia ser. Até nem me tinha saído mal, mas ainda não estava habituada. Ao jantar havia muita comida: arroz, massa, puré, batatas fritas, batatas cozidas, costeletas, frango assado, bife, peixe cozido, sardinha… E para sobremesa havia bolinhos pequeninos, fruta e croissantes. Depois do jantar, toda a família real se reuniu numa sala confortável, a ouvir a rainha a tocar piano. O piano era preto e grande, a sua música era encantadora e maravilhosa. Era óptimo ouvi-la pois dava a sensação de que éramos todos completamente livres para fazer o que quiséssemos. A rainha tocava tal melodia que eu estava prestes a adormecer; até já tinha os olhos fechados! Se não fosse o empregado Henrique … Pois, ele era empregado mas era também lindo de morrer! Quem é que se importa de namorar com um empregado? Era alto, nem gordo nem magro, tinha os olhos e os cabelos castanhos cintilantes, exactamente como eu gosto! Seria ele o meu príncipe encantado? Talvez… – Quem sabe? –
- Princesa… – Murmurava ele para me acordar. – Acorde, princesa. A rainha ficaria furiosa se a visse a dormir na parte mais carinhosa do dia.
- O quê?... Ah sim… – Disse eu, acordando e abrindo os olhos calmamente. – Pois! Claro… Obrigada.
- Não tem de quê…
No dia seguinte… Estava um lindo dia… Bem, dia de tarefas, mas isso não me impediu de tentar a minha sorte com a melhor desculpa de sempre.
- Princesa… – Chamou a minha empregada pessoal, que era bastante simpática. Era nem muito alta nem muito baixa, tinha trinta anos mas vestia-se na rua, como se pensasse que tinha dezoito. – A princesa não pode fazer isso. Já sabia que o trabalho de ser princesa não é para todos. E, além disso, os monarcas desejam julgá-la e pô-la ao teste. Ontem não teve muitas tarefas por que foi o seu primeiro dia no palácio, os reis não quiseram cansá-la nem que você ficasse a pensar que eles o eram egoístas e que só queriam ter a sua filha de volta, por que você os julgava mal, entende?
- “Ter a sua filha de volta?” O que lhe aconteceu? – Perguntei eu, pensando pela primeira vez no assunto da verdadeira princesa.
- Bem, ela teve um trágico acidente. Discutira com os seus pais, os reis, naquela noite… Estava muito nervosa ao jantar, e por isso, bebeu mais do que demasiado. Estava farta dos reis, que, mesmo sendo seus pais, lhes davam ordens e mais de mil e uma tarefas para cumprir todos os dias. Estava farta de ser princesa e farta dos motoristas, fotógrafos, paparazzis, que decidiu que ela, mesmo sem carta de condução ia conduzir o carro e não o seu motorista, que, por sua vez era o seu “quase-namorado”. Saiu disparada e teve um trágico acidente. O seu coração parou e causou muita dor a todos os que a rodeavam. - Que horror! – Exclamei eu, dando um pulo da cama real enfeitada de ouro e prata, tinha dois andares, se estivesse enjoada ou maldisposta, dormia no andar de cima, se estivesse bem-disposta e extrovertida dormia no andar de baixo. Não sei porquê, mas era verdade e sabia bem. – Isso significa que fingir que estou doente, ou seja, o meu plano foi por água abaixo. Não quero que os reis descubram que eu estava a fingir, sentir-se-iam bastante mal.
- Tem razão, princesa.
De repente, alguém batera à porta. A Liliana (a empregada) foi abrir a porta e era a rainha. Vestia um vestido branco e uns sapatos de bronze com um salto enorme.
- Bom dia, princesa. – Afirmou ela.
- Bom dia, vossa majestade. – Respondi eu.
- Vim cá para lhe dizer as suas tarefas de hoje:
· Primeiro temos de ir à missa mais uma vez, e atenção que temos de lá ir exactamente todos os dias.
· Depois temos de ir à televisão, à RTP, dar as boas vindas, noutro telejornal.
· Imediatamente depois aproveitamos, para ir dar uma palavrinha à SIC, visto que já fomos à TVI
· A seguir vamos à RTP2 falar dos nossos animais de estimação reais. O gato Arnaldo e a cadela Gi.
· A seguir vamos à Ponte 25 de Abril, no caminho para o Algarve, temos lá um festim dos reis.
· Depois disso, vamos a Lisboa, à Avenida Miguel Bombarda, porque temos lá outro festim.
· Depois vamos a Setúbal, almoçar com uns príncipes amigos.
· Depois vamos alugar uma suite de luxo num hotel, para que possamos passar uns dias fora, visto que as suas tarefas de amanhã vão ser todas lá perto.
· Depois vamos cortar a fita de uma festa, somente para que todos saibam que a festa começou e para expandirmos a sua popularidade. Sabemos que não é nenhuma estrela mas, mesmo assim, tem que ser conhecida.
· Depois voltamos para o palácio e você vai doar pão e roupa aos pobres.
· Depois vamos pedir a alguém que lhe faça a mala e é tudo por hoje.

- Com certeza, majestade. – Disse eu, já cansada das pernas.
- Arranje-se e vamos embora. – Exclamou a rainha. – Apresse-se.
- Eu não disse?! – Afirmou a Liliana. – Ser-se princesa não é fácil, e, como pode ver, os problemas e as complicações já tendem em aparecer.
Quem diria… Eu não sabia que era assim tão difícil, aliás, pensava que como eu era a princesa, as outras pessoas é que faziam tudo por mim e não eu tudo por elas. Não é justo.
O tempo passava e passava… E quanto mais tempo passava mais eu me cansava. Ainda faltavam quinze dias para o concurso terminar e eu já estava pelos cabelos. E olhem que os meus cabelos são muito longos. Mas a minha paciência e compreensão tinham chegado ao fim. Eu decidi aproveitar o pouco tempo que me restava para fazer as coisas à minha maneira.
Caminhava a passo de cavalo, e tentava não fazer muito barulho para não dar nas vistas. Quando de repente choquei com o Henrique.
- Desculpe, princesa. Está bem? – Perguntou ele, levantando-se rapidamente e oferecendo-me a sua mão como ajuda.
- Não há problema. Eu não me magoei, obrigada. – Respondi eu, a corar.
- Permita-me que lhe diga mas você tem que ter bastante cuidado. Não diga nada aos reis, mas eu, enquanto limpava o gabinete de sua majestade, o rei, ouvi uma conversa entre ele e a rainha. Falavam sobre si.
- Deve confiar bastante em mim, para me contar uma coisa dessas… – Murmurei eu.
- O que disse? – Perguntou o Henrique, que, felizmente não entendera o que eu dissera.
- Nada! Nada de nada.
- Bem, eles disseram que a Liliana lhe estava a encher os ouvidos com mentiras. Ela contou aquela cena de você querer fingir que está doente para não aturar as tarefas do dia-a-dia.
- O quê?! – Exclamei eu, estupefacta. – Ai, ela vai tê-las, ai vai, vai!!!
- Acalme-se, princesa.
- Acalmo-me? Eu estou muito calma, simplesmente estou a dizer que ela vai ver o que eu sou capaz de fazer. Além disso, como é que você pretende que eu me acalme? Os monarcas sabem disto? O povo sabe disto?
- Há quem diga que ela se disfarçou e contou tudo ao povo, mas eu não acredito.
- Lindo! Logo agora que as coisas iam começar a correr melhor. Mas por que raio é que estas coisas idiotas só me acontecem a mim?!
- Ela vai fazer tudo para a expulsar daqui. Com a ajuda dos monarcas. – Disse o Henrique, preocupado e com uma impressão de quem não queria mesmo nada que eu fosse expulsa. – Ela sabe o que lhe acontece se você não aguentar um mês no palácio.
- Mas a Liliana parecia ser simpática e amável… Espera aí… O apresentador disse que não acontecia nada se eu não conseguisse…
- Pelos vistos…
Eu estava mais chateada, irritada e aborrecida. Além disso, sentia-me traída, mas ao mesmo tempo sabia que não podia deixar ir tudo por água abaixo. Quem não gosta de surpresas? Podia tornar-me famosa.
- Deixe-me contar-lhe uma coisa…Você vai ficar aqui temporariamente, por que é que acha que a rainha queria tanto que você fosse conhecida por aqui? Aquela agenda, como presente era apenas uma espécie de teste. Todos repararam que você esperava algo mais. Tal e qual como a filha dos monarcas. Ela não está connosco nem vai estar mais qualquer vez, mas… Para os monarcas está e sempre estará. E eles fazem qualquer coisa por ela. Além do mais, sim, você tinha que aguentar um mês a fazer o trabalho de princesa, mas não tinha que ser tão conhecida. Bastava fazer o que lhe competia, visto que você está no palácio temporariamente. Se os reis conseguissem fazer com que você fosse muito conhecida, pronto, era muito conhecida. Mas, como dizem. “Um grande poder necessita uma grande responsabilidade”. Você é conhecida e se faz algo mal, todos serão seus inimigos.
- Acho que compreendi, mas… Oh meu Deus! E agora?
- Eu ajudo-a. Vou fazer o que conseguir. Mas, você prepare-se e esteja preparada para qualquer coisa.
Nem acredito que aquilo me estava a acontecer. Não estava preparada para enfrentar tudo aquilo.
Já de noite…
Todos estavam a dormir. E eu tinha mesmo de ir falar com os meus pais. Abri a porta do meu quarto, disfarcei-me de velhinha pobre – vesti um manto azul-escuro, pus uma peruca e calcei umas sandálias – e lá fui eu. Lá no palácio os carros estavam sempre abertos, e, eu, como tinha carta-de-condução, bem, já tinha tentado tirá-la mas não tinha conseguido, liguei o carro e lá fui eu para a Rua da Gramática. Tive sorte que não havia mais suites naquele hotel em que era suposto ficar, e por isso ficámos no palácio. Fui à rua da gramática (a minha rua). A minha casa tinha uma passagem secreta que só eu e os meus pais conhecíamos, que era a porta dos animais. Tinha uma alavanca que estava presa na garagem que estava sempre aberta, mas que também não tinha nada lá dentro. Puxei a alavanca e a portinha dos animais passou a deixar abrir a porta das pessoas. Entrei e, como os meus pais estavam a dormir profundamente, eu não os quis acordar. Escrevi um bilhetinho e fui-me embora. O bilhete dizia o seguinte:
“Queridos pais…
Sou eu, a Mariana. Vim cá ontem à noite, às 23h30 para vos dizer uma coisa muito importante, e, como os monarcas não vos deixariam entrar no palácio, escrevi este bilhete. Bem, no palácio, a princípio estava a correr tudo muito bem, mas depois houve um pequeno problema …”
Voltei para o palácio e adormeci no sofá.
No dia seguinte…
- Não! Oh não! – Gritou a Luísa. Pois, lembram-se? A empregada preferida do rei. – O meu colar de pérolas foi roubado! Não!!!
- O que aconteceu? – Perguntou a rainha, perturbada e acordada pela gritaria.
- O meu colar de pérolas… Desapareceu!
Com tanta gritaria até eu acordei. Mas, mal me levantei todos ficaram a olhar para mim, estupefactos pelo facto de eu estar toda despenteada e por terem percebido que eu tinha dormido no sofá. De repente a gritaria regressou novamente.
- Ela! – Gritou a Luísa, olhando para os meus bolsos, que, não sei como, tinham lá dentro o seu colar de pérolas. – Ladra! A princesa é uma ladra! Guardas!!!
Eu estava paralisada, vi a minha vida a ir por água abaixo, a Liliana e os reis riam-se de alegria. O que o Henrique dissera era verdade. Elas queriam fazer da minha vida um inferno! Os guardas chegaram e agarraram-me as mãos, até me puseram algemas, como se eu fosse mesmo uma ladra. Que injustiça.
- A minha filha não é uma ladra! – Exclamou a minha mãe, abrindo os portões do palácio. – Soltem-na imediatamente ou eu… ou eu… Fico muito chateada.
- O povo?! No palácio?! – Gritou a rainha, mais irritada do que nunca. – Fora daqui! O que é que vocês fazem aqui?! Fora da minha casa! Xô!
Os meus pais e todos os meus amigos estavam lá para me apoiar, eu estava tão feliz!
A Joana distraiu o guarda, piscando-lhe o olho, ele sem querer, largou as chaves da mão e o meu pai soltou-me. Até o apresentador lá estava. Começaram lá uma autêntica luta “amigável”. Os meus pais levaram-me para o carro, rapidamente e os meus amigos conseguiram fechar os monarcas dentro do palácio.
- Porque é que vieram? – Perguntei eu, dentro do carro, a todos os meus amigos.
- Foram os teus pais. – Responderam todos em coro.
- Sabes, Mariana… Quando lemos aquela tua carta, percebemos que algo não estava bem. Algo me disse que tu estavas metida num grande sarilho. – Respondeu a minha mãe.
- Esperem! – Exclamei eu, lembrando-me de uma pessoa muito importante. – O… O Henrique. Ele ajudou-me bastante, se não fosse ele, eu acho que até já tinha fugido do palácio. Nunca conheci ninguém como ele.
- Mas, Mariana… Ele não veio connosco. – Afirmou a Joana.
- Temos que lá voltar. – Disse eu.
- É que nem penses, nós estivemos a planear isto tudo tão bem e tu agora queres lá voltar? Deixa mas é esse banana em paz. Ele trabalha para os reis.
- Mas ele é diferente. É muito meu amigo.
- A Mariana apaixonou-se! Há! Há! Há!
- Não é nada! Ele simplesmente me ajudou. Contou-me tudo o que se passava e arriscou a sua vida. Se os monarcas soubessem o que ele fez por mim, o Henrique tinha sido enforcado.
- Então o Henrique não está com os reis? – Perguntou o apresentador em conjunto com a minha outra amiga Sofia.
- Claro que não! – Respondi eu.
- Mariana… Mas os monarcas sabem o que ele fez por ti. – Afirmou a Joana, preocupada com o que os reis lhe poderiam fazer.
- Desculpa? Não me gozes… Estás a gozar, certo? – Perguntei eu mais do que furiosa.
- Não… Ouvimos os monarcas a obrigarem-no a confessar tudo, mas apesar disso, ele mostrou muita resistência. Quer dizer… Nós pensámos que ele te estava a contar isso tudo por gozo e não por ser honesto. Pensámos que os reis o estavam a ameaçar tipo treino, para ele servir de isco. Lamento imenso. Nós não sabíamos!
- Pai… – Chamei eu. – Dá a volta.
Eu estava disposta a fazer qualquer coisa por um grande amigo que arriscou a sua própria vida, por mim.
- E se for uma armadilha? – Perguntou a Sílvia.
- Não é. Podes crer que não é. – Disse o apresentador, olhando para trás e vendo o Henrique já na guilhotina. – Ele… Está ali…
O carro não era lá muito rápido e o meu pai, que estava ao volante, não era de arriscar e conduzir a tanta velocidade como estava a conduzir, mas quase voava. Parecia uma flecha, e as rodas do carro até deitavam fogo do carinho e da lágrima que me caía no canto do olho. Que caía na rosa avermelhada no sangue que eu queria.
Estava uma multidão enorme só para verem uma pessoa inocente morrer por uma culpada.
- Parem! – Gritei eu, no meio da multidão. – Eu é que o forcei a contar-me tudo. Ele não teve nada a ver com o que se está a passar. Soltem-no! Por favor…
- Mariana?... – Disse o Henrique. – Não. (Não faças isso).
- Vossa majestade. Deve-me cinco minutos.
- Ai devo? – Perguntou a monarca, com um ar de espertinha.
- Eu perdi uma hora com o raio das tarefas. É o mínimo que me pode dar. Cinco minutos e a liberdade do Henrique. É tudo o que lhe peço.
- Feito. Mas… Cinco minutos… – Afirmou a monarca com um sorriso traiçoeiro. – Vamos para o lado do carro. Vamos falar com calma.
Fomos até ao carro e eu fui a primeira a falar:
- Porque é que está a fazer tudo isto? Por saudades? Por ódio?
- Tu ainda não percebeste mesmo nada, pois não? Se tu não tivesses feito troça do meu cachorrinho e do meu gatinho, nada disto tinha acontecido! Os animais de estimação reais são muito importante para nós, os monarcas.
- O quê?... Eu não fiz troça de absolutamente ninguém nem de nenhum animal de estimação real.
- Deves mesmo pensar que eu acredito nisso. A Liliana contou-me tudo. Além disso; e o colar? O colar de pérolas da Luísa? Você! Você roubou-lho! É uma ladra.
- Não… Eu não roubei nada a ninguém. Contaram-me que você e o seu esposo estavam a treinar um plano contra mim somente porque a Liliana vos dissera que eu fingira estar doente para faltar àquelas estúpidas tarefas. Nada mais.
- Contaram-lhe… Foi o Henrique, não foi? É contra as regras cuscar os monarcas. É ilegal no palácio. Por isso mesmo ele vai ser morto hoje.
- Não! Não foi ele que me contou isso. OK, eu admito. Eu é que fui cuscar. Quer dizer… Eu só estava a passar ali pelo corredor para ir beber um copo de água e ouvi-a a falar com sua majestade. Ele não teve nada a ver com tudo isto!
- Então… – Parou a rainha.
- A Liliana! – Dissemos em coro, olhando de repente uma para a outra.
Depois de muito pensar, murmurei ao ouvido da rainha.
- Porque é que não… – Contei o meu plano à monarca e ela pareceu-me estar a gostar.
- Claro! Excelente plano!
Eu e a rainha concordámos plenamente com o plano. A rainha disse ao povo que iam fazer uma espécie de intervalo. Fomos ao palácio falar com a Liliana e com a Luísa.
Quando chegámos vimos as duas a beber champanhe no trono real.
- Vossa majestade… – Disse a Liliana levantando-se de imediato.
- Liliana… Minha querida… Queria dizer que vais ser promovida. És uma excelente empregada, vais passar a princesa e esta aqui vai-se embora ainda hoje. A Luísa que vá fazer a mala da Mariana.
- Com certeza… vossa majestade… – Disse a Luísa, desconfiando bastante pelo facto de a rainha não estar furiosa com a Liliana e com ela. – Desculpe a pergunta, mas… a rainha não está chateada ou furiosa connosco? É que nós estávamos no SEU trono, a beber o SEU champanhe…
- Quer que esteja? Não. Entendi que fui bastante dura convosco, todos estes anos. Liliana, tu vens comigo para eu assinar os papéis da promoção. E a Luísa vai com a Mariana até ao quarto, correcto?
Devem estar a pensar mas que raio de plano era este, mas de certeza absoluta de que tudo ia correr às mil maravilhas.
A rainha entrou no seu gabinete com a Liliana.
- Sabe… Todos estes anos eu a julguei como uma pateta empregada, mas agora entendi que você era diferente. Agora, só aqui entre nós as duas… Você é que é a má-da-fita, não é?
- Perdão? – Perguntou a Liliana.
- A Luísa está consigo?
- Claro que sim, o plano era a Mariana ficasse a pensar que você era a má-da-fita e assim eu ficava com o trono.
- Ah… Repartia-o com a Luísa?
- Claro que não, ela era só uma ajuda.
- Foi você que pôs o colar de pérolas da Luísa no bolso do casaco da Mariana, não é assim?
- Claro que sim. Tramei-a bem… Ups! – Exclamou a Liliana apercebendo-se de que estava a contar tudo à rainha.
- “Aha!” Eu sabia que você faria tudo para ficar com o trono! Eu sabia!
De repente entrei eu com a Luísa bem presa.
- Esta aqui está numa grande confusão! – Afirmei eu.
- E esta aqui também tem contas a acertar com a polícia!
- Não! A polícia não! Por favor, não! – Gritava a Liliana e a Luísa ao mesmo tempo chorando de arrependimento.

“E assim acaba a minha história de um mês no palácio. Vitória
gritava eu, que salvei o meu Romeu da má-da-fita da história!”

* - Escrevi esta história nas férias, quando eu estava em Viana do Castelo, no Monte de Stª Luzia, um monte lindo cheio de espaços verdejantes que enchem o meu coração de novidades lindíssimas de um sítio diferente. Se alguma vez vierem cá, a Viana do Castelo, aconselho-vos a irem a este magnífico hotel! E ao restaurante “3 Potes”. *