sábado, julho 21, 2007

A maninha corajosa

Pois é, o meu último post foi tão feliz e este é tão curioso e infeliz. Bem, há dias atrás telefonaram à minha irmã a perguntar se ela podia ir à festa de aniversário de uma amiga, estavam a convidá-la, e ela aceitou. Perguntou onde era e a amiga disse que era na praia. Passado uns dias, a minha irmã Margarida foi à praia com as amigas à festa de anos. Eu fui com o meu pai ao seu trabalho. Passado mais ou menos uma hora, o meu pai disse-me que tinha uma reunião e disse-me para ficar no seu gabinete e assim foi. Pouco tempo depois o telefone do meu pai tocou. Eu atendi e era a minha mãe a dizer que a Margarida se tinha aleijado lá na praia e que não parava de chorar. Ela disse-me para eu ir procurar o pai mas para não desligar o telemóvel. Não estava ninguém naquele corredor, por isso eu andei por ali às voltas à procura do meu pai. Quando o encontrei, ele ainda estava na reunião. Eu abri mais a porta e disse:
- Desculpem interromper... É uma emergência.
O meu pai levantou-se e o senhor que estava a falar deu a reunião como acabada. Eu passei o telemóvel ao meu pai e fiquei bastante assustada quando ele perguntou à minha mãe porque é que eles não chamavam uma ambulância. Quando ele desligou o telemóvel eu perguntei-lhe o que é que a Margarida tinha e ele disse que achava que tinha tido uma luxação da rótula.
- Isso é grave? - Perguntei eu já com o corpo a tremer.
O meu pai disse que não sabia mas que o mesmo tinha acontecido ao meu tio, ao meu avô e à minha mãe, e que agora estava a acontecer à minha irmã. Curioso, não é? Saímos logo e fomos ter com a minha irmã ao hospital. Eu nem sei o que senti quando abriram a porta da ambulância e vi a minha irmã lá dentro a chorar. Ainda por cima o aspecto do seu joelho... Tinha a rótula toda para o lado. Ela dizia que não estava a chorar porque estava a doer mas sim porque tinha sido na festa de anos de uma amiga e estava com medo que, os médicos ao porem a rótula no devido lugar, doesse tanto como quando ela partiu o pulso. Pois é, a minha maninha já partiu o pulso esquerdo três vezes, à quarta teria de ser operada e agora era isto! Que azar... Entrámos no hospital e o meu pai foi levar a mãe da aniversariante que tinha ido na ambulância com a Margarida e que estava a chorar imenso porque entrara em pânico. Eu queria ir com a minha mãe e com a Margarida à sala onde iam pôr a rótula no lugar, à minha irmã, mas, a médica aconselhou a minha mãe a não me deixar entrar porque eu ainda era muito nova e porque estava lá dentro muita gente; para o caso de doer. Felizmente ainda encontrei o carro do meu pai estacionado. E fui com ele levar a senhora a casa. O meu pai perguntou-lhe como é que aquilo tinha acontecido mas que não havia problema nenhum e que ninguém tinha tido culpa.
- Não sei. - Respondeu ela. - A Margarida estava a correr um bocadinho com as amigas à beira-mar e depois caiu agarrada ao joelho. É impressionante como uma coisinha de nada pode fazer isto.
- Pois, mas não se preocupe. Aquilo não é nada de mais. - Disse o meu pai, tentando acalmar a senhora.
Já tínhamos levado a mãe da aniversariante a casa e eu e o meu pai fomos ao hospital ver como estava a Margarida. Felizmente não tivemos que esperar muito tempo a Margarida saiu de lá com ligadura na perna mas com um sorriso na cara. Eu ainda hoje me pergunto como é que ela conseguiu manter o bom-humor em forma depois de tudo o que lhe tinha acontecido. A minha irmã queria voltar para o ténis mas os médicos disseram-lhe que ela não ia poder fazer desporto, queria ir ao parque aquático mas não podia nadar, mas isso não a impediu de sorrir. Ela é muito corajosa pois sabia que aquilo lhe ia acontecer mais vezes. Voltámos para casa às 15h30 e foi a essa hora que almoçámos. E eu perguntei à Margarida:
- Doeu muito?
- Não doeu nada! O que mais doeu foi a agulha que me espetaram no braço, para eu não sentir nada. E não fui logo atendida por que os estúpidos médicos estavam a almoçar. Tiveram que me dar um calmante porque eu estava bastante nervosa.
Estava tudo muito bem e estávamos todos muitos felizes pela Margarida. Mas, no dia seguinte...
Eu estava no meu quarto a vestir o pijama e a minha irmã já tinha as canadianas e estava lá em baixo a treinar. Sentou-se e sem querer dobrou o joelho e começou a gritar:
- ISTO VOLTOU! ESTA P...* VOLTOU! NÃO! NÃO!
Eu fui logo a correr lá para baixo e disse ao meu pai para se despachar e telefonar para o 112. A ambulância não demorou muito a chegar, mas a minha irmã chorava porque os bombeiros aleijavam-na a pô-la na maca. Eu chorava terrivelmente porque via a minha irmã, a minha melhor amiga, a pessoa que eu mais adoro a sofrer mesmo diante dos meus olhos e eu não podia fazer nada. Que horror! A minha irmã foi com a minha mãe para o hospital, novamente e disse-me que telefonavam quando fosse para nós as irmos buscar. Bem, vocês já sabem o que aconteceu depois. Eu chorava e não parava, o meu pai pesquisava na Internet e dizia-me para eu ligar a televisão, para me distrair. Mas a televisão não ajudava nada! Apareciam anúncios de queijo fresco e de coisas que a minha irmã adorava, mas eu mudei logo de canal.
Às 23h30 a minha mãe telefonou e nós fomos buscar a Margarida ao hospital, ela disse que preferiu os médicos desta vez do que os da primeira vez.
- Ainda bem... - Disse eu.
- Sim, os médicos desta vez puseram-lhe gesso. - Afirmou a minha mãe. - Os outros médicos deviam-lhe ter posto logo o gesso, mas não puseram.
E mesmo assim, ainda hoje a minha irmã, apesar de ficar dias sem conta na cama a ver televisão, a jogar PSP, a jogar às cartas e a navegar no computador, ainda tem o mesmo sorriso de quando não tinha o gesso ou ligadura na perna. Sim, porque ela só pioraria se chorasse e ficasse aborrecida, chateada ou irritada. Agora, a Margarida tem que ficar sem mexer a perna durante dois meses, no mínimo. Acha-se a rainha! E pior para mim que sou a empregada, mas eu não me importo. Imagino o quanto a Margarida sofre (apesar de continuar feliz) em ter a perna como tem.
Nós vamos para Viana do Castelo, e, ela tem que ir com a perna esticada e eu?! Eu só tenho um bocadinho de espaço no carro. E nem me consigo encostar. Mas alegro-me de pensar que tenho a maninha mas corajosa e bem-humorada do mundo!!!